terça-feira, 16 de agosto de 2011

Desgosto em agosto

Na ida ao trabalho, quase dormindo na última fileira do ônibus, consigo me manter acordada para não perder a próxima parada, na qual desceria. De repente, um vulto negro com cabelos dourados toma, com a maior velocidade já vista antes, a minha bolsa. Em cinco segundos, passa pela minha cabeça: "Não adianta correr. Mas e meu celular, dinheiro (cerca de R$ 300), maquiagem, cartão de passagens e tudo o mais? O motorista ainda tenta influenciar, “não adianta descer, não, minha filha”.
“Ah, não custa nada tentar”, foi o que eu devo ter pensado antes de dar uma carreira atrás do meliante. “Pega ele!!!”, dizia eu, enquanto corria a cerca de 60 km/h, sem raciocinar direito. Até chegar à praça pública mais próxima, onde se encontravam um pescador e o elemento - por sua vez, apreendido, deixo cair lágrimas e carrego alguns objetos meus – crachá do trabalho, rímel, moedas - que foram ao chão enquanto ele corria. Chegando na praça, encontro a criatura colada na parede – graças ao trabalhador, claro.
Nem preciso ligar para a polícia. Quando penso em fazê-lo, populares ávidos com a situação já tomaram a iniciativa. Chega a viatura. Entramos eu, o libertino e três policiais militares. No caminho, como não poderia deixar de ser, procuramos saber um pouco mais sobre a vida dele. Pipoqueiro, sem pais ou amigos e prestes a completar 19 anos (no próximo dia 20) – com exceção de um policial que foi preso ontem – foram as principais informações que ele passou. Ele estava tranquilo e não manifestava nenhum medo ou desconforto com a situação. “Ei, senhora. Desculpa”, foi a única audácia que chegou a dizer.
Chegando à delegacia, onde não imaginaria que passaria três horas, sento-me na sala do delegado Alberto e ouço alguns casos (comuns ao ver dele) que já ocorreram nas primeiras nove horas do dia. Na ficha com histórico do acusado, ele encontra passagem pela Funase. “É, ou algum conhecido dele paga dois salários mínimos de fiança ou ele vai passar o aniversário no Cotel”, comentou.
No fim das contas, perdi apenas um bloco de anotações e um lápis de olho. Quatro horas após o ocorrido, ligo para o delegado para saber do fim que levou o acusado. Sou informada de que este já foi encaminhado à prisão. Ou deve aprender a roubar direito ou vai parar com a prática. Não poderia ter acontecido em outro mês!